Lisboa :: Ponte de Sôr :: Castelo de Vide :: Nisa :: Vila Velha de Ródão :: Lisboa :: Abril de 2012

7 amigos. 7 bicicletas. 6 dias. Uma viagem inicialmente estimada de 300km por Portugal e Espanha que acabou por ser de 200km. Já contaremos.

Trajeto total inicialmente estimado.

Dia 1 – 31 de Março – Sábado

COMBOIO

Lisboa → Entroncamento

BICICLETA

Entroncamento → Ponte de Sôr
Distância: 65 Km

O dia começou logo com uma corrida frenética para tomar o pequeno almoço, arranjarmo-nos e depois descer as bicicletas pelas escadas do prédio mais as bagagens. Nada fácil ainda para mais já atrasados para o ponto de encontro (eu, o A. e o P.). Lá fomos nós a descarregar a energia do pequeno almoço pela estrada fora. O ponto de encontro era na Igreja dos Anjos. Lá já nos esperavam o J., a S. e a C..

Siga! Sempre a descer até Santa Apolónia lá fomos nós muito felizes.

Chegados à estação deparámo-nos com o nosso primeiro desafio. Bilheteiras fechadas e pouca informação sobre o que se passava. Depois de percorrer a estação de um lado para o outro, lá conseguimos comprar os bilhetes mas com a indicação do revisor que o transporte de comboio do Entroncamento para Abrantes poderia não ser garantido devido à greve dos maquinistas que decorria neste dia… Que pontaria, pensámos, uma greve no dia da nossa partida.

Enquanto colocávamos as bicicletas no comboio conhecemos o Werner, um canadiano mas de origem austríaca que ia começar uma aventura pela Europa. A sua história encorajou-nos. Dizia-nos que estimava fazer 4000km, sim quatro mil kms. Contamos-lhe que iriamos também dar inicio a uma viagem de bicicleta mas nos nossos planos estimávamos apenas 300km.. pois, não tínhamos mais férias por isso os 4000 ficam para a próxima.

Eu, a S. e o Werner no comboio, já prestes a partir de Lisboa

Chegámos ao Entroncamento. A greve de maquinistas impediu-nos de continuar até Abrantes. Decidimos descer nesta estação e a partir daqui dar início à nossa viagem de bicicleta.

Estação do Entroncamento

Eram 11h30. Os mapas que imprimimos não tinham detalhe suficiente para nos guiar até ao nosso destino desse dia, Ponte de Sôr, porque o plano era começarmos em Abrantes. Valeu-nos o GPS do telemóvel do A. A primeira pausa para almoço seria em Vila Nova da Barquinha.

Vila Nova da Barquinha

Seguimos depois até perto de Constância, para conseguirmos atravessar o Tejo, na ponte de Praia do Ribatejo.

Pausas para olhar para o mapa

Os vários corta-matos que fizemos para encurtar caminho foram em terra batida.

Uma curva
E mais outra

Depois de percorridos cerca de 65 Kms (35 Kms a mais que o previsto devido a ter partido do Entroncamento) finalmente chegámos a Ponte de Sôr. Era já de noite, 21h30. Estávamos todos bastante cansados e doridos. Foram várias horas a pedalar, intervaladas com curtas pausas para ir decidindo as melhores opções para o trajeto.

Dia 2 – 1 de Abril – Domingo

BICICLETA

Ponte de Sôr → Alter do Chão
Distância: 37 Km

Acordámos com um dia de chuva em Ponte de Sôr. Uma chuva miúda e certinha. Eram 12h30 quando saimos da vila. É muito tranquilizante pedalar e ouvir a chuva cair no nosso impermeável e no capacete. Contudo, nestes dias, implica mais trabalho na preparação da bagagem em protegê-la da água. Tinhamos bagagem fora dos alforges e necessitávamos de a manter seca.

Eram 13h45 quando chegámos a Vale de Açor. Uma pausa para um reconfortante carioca de limão num café da localidade. O tempo estava óptimo, as nuvens deram lugar ao sol pelo que aproveitámos para fazer um piquenique à frente da igreja da mesma localidade.

Às 15h45 partimos de Vale de Açor com o objectivo de chegar a Alter do Chão ou então um pouco mais longe, ao Crato.

Uma longa recta
Uma curta pausa

A partir de Vale de Açor era notório a mudança de paisagem. Na opinião do grupo a mudança era positiva. Esperavam-nos longas rectas, umas planas, outras com uma inclinação aceitável. O movimento automóvel na estrada diminuira, comparando com as estradas anteriores, permitindo assim envolver-nos mais na natureza, em poder ouvi-la. Começaram a surgir as herdades com gado bravo.

A viagem decorria e o grupo sempre mais atento a todos os pormenores visuais e auditivos. Os pássaros anunciavam de imediato a nossa chegada. Até parecia que nos acompanhavam. Os grilos pelo contrário assim que ouviam o aproximar da bicicleta paravam o seu cri-cri, atentos ao som desconhecido de um pneu a rolar na estrada. Uma sensação de imensidão esta, em podermos escutar e envolver-nos na natureza.

O dia aproximara-se do fim, o por do sôl já mostrara sinais de começar. O cansaço era muito por isso o grupo decidiu pernoitar em Alter do Chão ao invés de seguir na direcção de Crato. Uma boa escolha. Alter é uma vila muito agradável e as pessoas muito atenciosas.

Castelo de Alter do Chão
As bicicletas na residencial em Alter do Chão

Dia 3 – 2 de Abril – Segunda-Feira

BICICLETA

Alter do Chão → Castelo de Vide
Distância: 42 Km

Era tarde, eram já 13:10 quando saímos de Alter do Chão. A manhã foi dedicada ao descanso, aos passeios pela vila de Alter e na preparação da nova etapa.

Em Alter do Chão
À porta da residencial em Alter do Chão

Seguimos em direcção ao Crato para conhecer a vila e com a ideia de almoçar por lá, num jardim da vila. Passámos pela estação de caminhos de ferro. Uma bonita estação mas infelizmente fechada devido à baixa procura registada nos serviços ferroviários da linha do leste..

A estação do Crato

As herdades de gado bravo são uma constante ao longo do percurso e as cegonhas já se vêem nos seus altos ninhos.

Gado bravo
Cegonhas

Crato esperava-nos com faixas roxas, simbolos da páscoa. No caminho, na vila reecontrámos o alemão que esteve na última noite na mesma pousada que nós, em Alter do Chão. Já perto dos seus 70 anos percorria a pé a via lusitana, desde o Algarve até Santiago de Compostela. Um grande exemplo para todos nós. Diz-nos, em português, que Portugal é um país 5 estrelas, pelas paisagens, pelas localidades, pelas pessoas… palavras que nos encheram de orgulho.

Crato

Finalizado o almoço seguimos desta vez em direcção a Alagoa, com passagem por Flor da Rosa, a terra de D. Nuno Álvares Pereira. Grande mestre da cavalaria. Eram 16h00.

Rua em Flor da Rosa

A paisagem ia ficando cada vez mais espectacular. O facto de irmos numa estrada municipal trouxe-nos uma maior sensação de liberdade e segurança. Éramos nós, só nós os seis e a natureza. Por esta estrada as herdades com gado bravo ou os campos com ovelhas e ou cabras eram uma constante. Pelo caminho os pássaros continuaram a ser os nossos companheiros. Os tentilhões destacavam-se muito bem hoje. Lindo! Os grilos também, ao longe no seu cri-cri.

Estrada M1023
Rebanho de ovelhas

Ainda na estrada municipal M1023, estafados.

Uma subida díficil já ao final do dia
A estrada com os seus muros de pedra

O dia ia caindo, já se punha um pôr do sol lindo. Aproveitámos para o apreciar e fazer uma curta paragem na estrada no meio do nada.

Estrada M1023
Estrada M1023

Já perto de Castelo de Vide decidimos arriscar num corta mato, por uma estrada cortada num ponto que cruzava com a linha do comboio. No meio do nada tivemos a sorte de nos cruzar com um senhor que habitava por ali perto que nos indicou que a passagem pela linha do comboio era possível ajudando-nos a passar as bicicletas pela vedação que impedia o acesso à linha. Ficámos-lhe agradecidos pois pouparamos alguns kms e tempo pois o sol ameaçava em breve esconder-se e ao longe ouvia-se a trovoada que se avizinhava. Uns 200m depois estavamos de volta à estrada quando naquele momento passou uma carrinha de caixa aberta e o condutor oferece-nos boleia. Faltavam 3km para Castelo de Vide. O cansaço era evidente e já começava a ficar bastante escuro pelo que nós mulheres não hesitámos em aceitar. Foi um sim convicto! Os nossos companheiros decidiram seguir de bicicleta. ‘Grande João Pedro’ um grande obrigado pela simpatia e generosidade! Foi um grande gesto, muito amável.

A carregar a carrinha
Boleia para Castelo de Vide

Chegadas a Castelo de Vide, decidimos ir beber um chá quente enquanto esperávamos pelos rapazes quando de repente nos surgiram.. “Como? Já?!”. Incrível a sua resistência depois de um dia tão intensivo. O dia não podia ter sido melhor e para acabar em grande nada como um bom jantar na Casa do Pasto e depois um bom descanso na “Melanie”.

Dia 4 – 3 de Abril – Terça-Feira

BICICLETA

Castelo de Vide → Marvão
Distância: 12 Km

Hoje o dia iria ser mais relaxado. O grupo decidiu ficar mais uma noite em Castelo de Vide para se ter mais tempo para ver a vila e os arredores. Assim também haveria tempo para os desenhos e para a leitura. Fomos ver a vila de Marvão, de bicicleta.

A caminho do Marvão
Campos ao redor do Marvão

Mesmo sem as bagagens a subida ao Marvão foi dicífil. O Marvão situa-se no topo da Serra do Sapoio, a uma altitude de 860m. Neste dia fazia muito vento e frio. Ainda assim, o esforço valeu a pena, a vila é muito bonita, e toda ela bem preservada.

Detalhes em Marvão
Castelo de Marvão

A vila, com as suas ruas contorcidas de traços medievais.

Rua de Marvão

De regresso a Castelo de Vide e o Marvão já lá ao longe.

Marvão

Regressados a Castelo de Vide, depois de um dia passado em Marvão, aconselharam-nos jantar no restaurante do Johnny. A escolha não podia ter sido melhor. Muita simpatia e boa comida.

A noite estava serena e, depois de um agradável jantar, o ambiente convidava-nos para um passeio pela vila. Castelo de Vide é uma vila antiga. No passado acolhera muitos dos judeus fugidos de Espanha. A presença das raízes judaicas é bastante evidente. Vale a pena visitar esta vila história, ver o castelo, a judiaria e a sua sinagoga. Pormenor de uma porta de uma casa em Castelo de Vide.

Porta em Castelo de Vide
e mais outra

A sinagoga Medieval de Castelo de Vide foi edificada no séc. XIV.

Sinagoga em Castelo de Vide

Dia 5 – 4 de Abril – Quarta-Feira

BICICLETA

Castelo de Vide → Nisa
Distância: 28 Km

De Castelo de Vide levamos muitas recordações. A começar pela boleia do sr. João Pedro na chegada a Castelo de Vide na sua carrinha de caixa aberta, nas várias vivências na casa da Melanie, na casa do pasto “Os Amigos” e no restaurante O Johnny, ambos pela simpatia, o bom acolhimento e pela boa comida.

A caminho de Nisa, decidimos fazer uma curta paragem em Póvoa e Meadas.

Momento de descanso em Póvoa e Meadas

A paisagem entre Castelo de Vide e Nisa é muito bonita. Passámos pelo Parque Natural de São Mamede. Já eram menos as herdades de gado bravo mas agora começávamos a ver campos de cereais. As cores das plantações davam um perfeito quadro. Observar toda esta envolvência ajuda a esquecermo-nos da rotina frenética do nosso dia-a-dia.

Campos de cereais a caminho de Nisa
Animais no prado perto de Nisa

Fizemos uma curta paragem numa fonte, à beira da estrada.

Fonte

Chegados a Nisa, procurámos uma estalagem para passar a noite. Nisa é uma cidade muito bonita.

Portas da vila de Nisa

Dia 6 – 5 de Abril – Quinta-Feira

BICICLETA

Nisa → Vila Velha de Ródão
Distância: 17 Km

COMBOIO

Vila Velha de Ródão → Lisboa

A paisagem a caminho de Vila Velha de Ródão muda novamente. É mais montanhosa e agora começam-se a ver os eucaliptos e, talvez por estas razões, deixámos de ver as herdades com gado bravo.

Nesta viagem apercebemo-nos das várias diferenças de paisagem entre o Ribatejo, o Alentejo e a Beira baixa. Diferenças que não nos aperceberíamos se estivessemos a fazer a mesma viagem de carro.

Estrada para Vila Velha de Ródão
O Tejo ao longe

Já a chegar a Vila Velha de Ródão, esperavam-nos as portas do Ródão.

Portas do Ródão

Chegados a Vila Velha de Ródão seguimos na direcção da estação dos comboios. Na estação não havia ninguém e as bilheteiras estavam fechadas. Não encontrámos nenhuma informação. Preocupados decidimos ligar para a CP que nos indicou estar a haver nesse dia disturbios nos horários dos comboios devidos à greve na CP. Nem podíamos crer, cada vez que viajávamos de comboio apanhávamos uma greve. Indicaram-nos também que o único comboio que seguia nesse dia para Lisboa estava prestes a chegar pelo que não tinhamos tempo a perder. Necessitávamos de trazer as bicicletas e todo o material para o cais e, infelizmente, devido a este contratempo não tivemos hipóteses de conhecer Vila Velha de Ródão.

Após tanta peripécia restou-nos descansar no comboio, a caminho de Lisboa. O comboio segue ao longo do rio Tejo, é uma paisagem tão bonita. O grupo sentia-se bem e feliz. A viagem ao longo destes dias foi incrível. Levámos muitas boas recordações.

As bicicletas no comboio

As bicicletas já em Lisboa, estacionadas, enquanto aproveitávamos para comer algo num café ali por perto.

Chegada a Lisboa

Estas viagens são boas para avaliar a nossa capacidade de auto-confiança e de decisão para ultrapassar as dificuldades.

O percurso realizado

Viagem de 6 dias e 5 noites.

  • 1º dia: 31/Março/2012, Lisboa → Entroncamento: Comboio da CP
  • 1º dia: 31/Março/2012, Entroncamento → Ponte de Sôr. ~65Km. Bicicleta
  • 2º dia: 1/Abril/2012, Ponte de Sôr → Alter do Chão. ~37Km. Bicicleta
  • 3º dia: 2/Abril/2012, Alter do Chão → Castelo de Vide. ~42Km. Bicicleta
  • 4º dia: 3/Abril/2012, Castelo de Vide → Marvão - Castelo de Vide. ~12Km Bicicleta
  • 5º dia: 4/Abril/2012, Castelo de Vide → Nisa. ~28Km. Bicicleta
  • 6º dia: 5/Abril/2012, Nisa → Vila Velha de Ródão. ~17Km. Bicicleta
  • 6º dia: 5/Abril/2012, Vila Velha de Ródão → Lisboa: Comboio da CP

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